“Deixa comigo. Fiz media training na empresa em que trabalhava antes. Entrevista, eu tiro de letra”. Em pouco mais de 26 anos na comunicação corporativa, estas são frases que ouvi com mais frequência do que gostaria. E, infelizmente, suas consequências normalmente são trágicas. No melhor dos casos, desperdiça-se a oportunidade de contar uma boa história. No pior…
Com o tempo, percebi que a culpa na verdade é nossa, dos profissionais e agências de comunicação. Nos últimos anos, temos nos dedicado a vender uma sessão de oito horas, recheada com meia dúzia de vídeos e alguns profissionais da imprensa, contratados a peso de ouro, como a solução mágica para todos os problemas dos porta-vozes.
Do dia para a noite (literalmente), eles passariam a entender como pensa um jornalista, a adaptar mensagens corporativas para todo tipo de mídia e público, a ter sempre a melhor reposta na ponta da língua (e expressa-la com confiança e alegria). Profissionais introspectivos perderiam a timidez. A fala se tornaria enfática e sedutora. A postura, famosa linguagem corporal, ficaria totalmente alinhada com o discurso verbal. Em apenas oito horas… Sensacional.
Outra escola de treinamentos, talvez mais consciente da falácia desta promessa, aproveita o media training para simplesmente disseminar o pavor da imprensa entre os executivos que ainda tinham o interesse em se aventurar numa entrevista. Sim, a culpa é toda nossa.
Lógico que estas sessões tem seu valor, ajudam a identificar talentos e deficiências, chegam mesmo a melhorar os pontos mais críticos, mas são apenas o início da jornada. O caminho para formar um porta-voz, alinhar a comunicação de uma empresa, melhorar o desempenho de um palestrante, é árduo e longo. Isolado, o media training é de pouco valor. Quem leva a sério sua comunicação deve implementar programas de treinamento desenvolvidos a partir das necessidades específicas de cada organização ou profissional. Identificamos seis pontos chave para um processo bem sucedido:
CONTINUIDADE – Consistência é o nome do jogo. Os programas de porta-vozes e alinhamento de comunicação bem sucedidos são perenes, com grandes ativações anuais (no mínimo) e projetos especiais mais frequentes para profissionais ou situações específicas.
MENSURABILIDADE – Alinhe claramente os objetivos para cada grupo ou profissional e defina as métricas mais adequadas para avalia-los. Estes indicadores devem ser isentos, seguir critérios claros e serem aplicados por consultores independentes, para ter credibilidade. Mantenha as mesmas métricas no longo prazo, identificando a evolução dos capacitados e do próprio programa de treinamento. Programas como o ‘Jornalista Oculto’ também ajudam a avaliar os processos internos da comunicação.
ESPECIFICIDADE – Um programa efetivo de treinamento em comunicação deve considerar módulos avançados e personalizados a partir das demandas de cada profissional. Design de Voz, Construção de Narrativa e Aperfeiçoamento de Performance (com diretores de atuação teatral) são alguns tópicos que podem ser desenvolvidos para preparar um palestrante ou porta-voz. Um projeto de capacitação continuada, com diversas simulações de entrevistas ou falas em público num espaço de algumas semanas, é outra tática interessante para aperfeiçoar o desempenho.
ABRANGÊNCIA – Na era da informação, marcada pelas mídias sociais e transparência, é impossível manter o alinhamento da comunicação treinando apenas executivos. Projetos de prevenção de crise e branding (falamos a respeito em outro post) devem considerar a capacitação de todos os colaboradores, em especial os da linha de frente.
DIVERSIFICAÇÃO – Num programa pensado para o longo prazo, é necessário desenvolver abordagens inovadoras para renovar o interesse no conteúdo a ser ministrado. Técnicas variadas como jogos, simulações e encenações teatrais são fundamentais para engajar os profissionais.
ESPECIALIZAÇÃO – Nada contra a contratação de jornalistas famosos para participar de treinamentos. Mas é importante ir além. Um projeto efetivo de treinamento em comunicação demanda uma equipe multidisciplinar (jornalistas, designers, fonoaudiólogos, atores, contadores de histórias, psicólogos, comunicólogos etc) sêniores, com experiência em… treinar pessoas.
Apesar da fala ser algo natural no Ser Humano, a comunicação efetiva tem muito mais de arte e ciência do que normalmente se considera. É hora de darmos a esta habilidade fundamental a sua devida importância. Afinal, se engajar consumidores é vital para a sobrevivência corporativa, convencer pessoas com alto grau de discernimento não é um desafio para iniciantes. Quer saber mais sobre como planejar um programa de treinamento de sucesso? Entre em contato pelo engaje@engajecomunicacao.com
Imagem de Ludovic Berton via Flickr
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