Por Rosângela Florczak, jornalista, mestre e doutorada em Comunicação Organizacional. Atuou como executiva em organizações de grande porte e recebeu o Prêmio Aberje Nacional. Professora de Gerenciamento de Crise e Reputação na ESPM-Sul (RS).
É comum encontrar, no cotidiano das empresas, a percepção de que qualquer conversa “paralela” é perda de tempo. Grupos reunidos conversando ou comentários que não digam respeito a números e resultados em reuniões, por exemplo, sempre foram muito mal vistos.
Nessa mesma visão, gestor bom é aquele que preza pela objetividade. E que não perde tempo dando muitas explicações. Aquele que constrói o consenso de forma rápida e indolor, que delega de forma remota e acompanha etapas globais de resultados. Pois bem, nesse ritmo, talvez a empresa até sobreviva, mas estará há anos luz de criar sentido e engajar colaboradores, fornecedores, clientes e toda a comunidade da qual a organização é o vetor.
É hora de virar essa chave e aprender a conversar, ou melhor, aprender a dialogar. E foi essa ficha que caiu para grandes companhias. Elas estão dedicando exaustivos esforços para substituir os já desgastados canais tradicionais de CI pelo diálogo face a face. Parece simples, mas não é. A mudança causa uma verdadeira revolução no comportamento das pessoas. Especialmente daqueles que ocupam lugares de comando e que, até então, eram apenas as fontes de informação para os grandes alinhamentos ou os críticos que apontavam as famosas “falhas de comunicação”.
A comunicação no contexto interno passa necessariamente pelo diálogo. Se buscamos engajamento, precisamos investir em explicar, em produzir sentido, em envolver as pessoas. Acima de tudo, precisamos investir na negociação entre colaboradores com lógicas e interesses distintos uns dos outros. Não se trata de perder tempo, mas sim de ganhar pertencimento. Ninguém se envolve, e menos ainda, se engaja, naquilo que não conhece, não entende ou não concorda.
Não há tecnologia, por mais inovadora e complexa, que dê conta de fazer esse papel. Então, precisam entrar em cena as pessoas. Nesse caso, os gestores e as lideranças capacitadas para o diálogo, com clareza de propósito e coerência de atitude. Tudo parte de um processo planejado para gerar comunicação a partir das conversas significativas.
Mas devemos ficar atentos para os cuidados necessários ao migrar para uma comunicação efetiva. Pelo menos três pontos cruciais devem ser observados:
1 – É fundamental planejar o processo global de fluxo da comunicação. Afinal, não se trata de perder tempo com conversas vãs. Precisamos ter objetivos claros e um sistema eficaz e contínuo. O fluxo de comunicação precisa ser rigorosamente mapeado: quem comunica a quem? De onde partem os alinhamentos? Quem organiza as narrativas sob o ponto de vista técnico (textos, vídeos etc)? Qual o timing para que todos estejam igualmente envolvidos e engajados? Como ouvir as reações e estabelecer uma conversa genuína, horizontal e igualitárias nas equipes? Essa e muitas outras perguntas precisam ser respondidas no planejamento.
2 – Capacitar os gestores e lideranças que passam a ser os porta-vozes disponíveis para a comunicação face a face (mesmo quando a distância só permite a versão mediada, ou seja, por videoconferência e outros mecanismos). Sim, essas pessoas precisam ser muito mais do que canais que transmitem a informação. Devem estar preparados para construir o sentido dos fatos e da realidade da empresa por meio de uma conversa verdadeira, na qual as pessoas se sintam à vontade para perguntar e a escuta seja efetiva. Poucos gestores chegam nas empresas com essa competência desenvolvida. É preciso treinar.
3 – Acompanhar e mensurar os resultados dos processos e metodologias de diálogo adotados é fundamental. Precisamos ter clareza do engajamento alcançado para poder corrigir, melhorar e ampliar as iniciativas baseadas em conversas. Até mesmo para aproveitar os resultados do engajamento alcançado e buscar mais.
Da simplicidade de transmitir a informação à complexidade de gerar comunicação há um grande caminho a ser percorrido, um trajeto que exige muito treinamento e disciplina, mas um caminho sem volta. Isso porque, se ao transmitir informações conseguimos ter como resultado pessoas informadas, ao gerar comunicação conseguimos ter profissionais engajados alcançando resultados extraordinários, sem coerção e com clareza de propósito. Vale a pena!
Se você ainda tem dúvidas ou quer ajuda nesse processo, converse com a gente! J
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